nossas famílias são grandes. podemos ser irmãs, irmãos, primas, primos e não sabemos.
nossas histórias são cruzadas. nos perdemos a muito tempo atrás.
vivemos fugindo, escapando, movendo-se.
não sente isso?
fomos retirades de nossos lugares.
aprendemos a não parar. a sair em fuga.
a enfrentar. e dar conta.
temos uma força que não podemos ver a grandeza dela.
somos les sobreviventes de um caos.
mesmo ainda estando nele.
e não caímos fácil.
somos frágeis. frágeis fortes.
sempre fomos.
vamos bailando entre os truques.
descobrindo formas.
abrindo caminhos.
sim, vamos na frente.
abre ala.
abrindo para fechar.
construímos nossos remendos na pele.
mas, mais do que na pele, somos uma grande costura.
esse conhecimento e visão é muito antiga.
costuradas por dentro, na história, nessa rede que quebra o tempo e espaço. e viaja neles.
aprendemos a tocar tambor e chocalhos, a cantar e a dançar para relembrar, fortalecer, festejar, curar.
resistir aos que nos queriam separados.
nos abraçamos para nos reconhecer, para agradecer as nossas existências, para nos sentir.
vamos seguindo, às vezes gritando, às vezes em silêncio.
mas vemos tudo. muites de nós sentimos muito.
muites de nós conversamos muito.
vemos o invisível.
vemos os jogos. e aceitamos.
mas é porque já estamos em outro caminho.
o que nos interessa são nossas ancestralidades cruzadas.
nos amamos. e tb deixamos nosses continuar suas trajetórias.
sentimos falta. não pertencemos.
passamos por vários portões. atravessamos muitas encruzilhadas.
nos encontramos. e cada ume nos atravessa.
nunca estivemos em momento de trégua.
mas temos a experiência da sagacidade.
aprendemos.