sexta-feira, 13 de outubro de 2017

não sente isso?

nossas famílias são grandes. podemos ser irmãs, irmãos, primas, primos e não sabemos. 
nossas histórias são cruzadas. nos perdemos a muito tempo atrás. 
vivemos fugindo, escapando, movendo-se.
não sente isso?
fomos retirades de nossos lugares.
aprendemos a não parar. a sair em fuga.
a enfrentar. e dar conta.
temos uma força que não podemos ver a grandeza dela.
somos les sobreviventes de um caos.
mesmo ainda estando nele.
e não caímos fácil.
somos frágeis. frágeis fortes.
sempre fomos.
vamos bailando entre os truques.
descobrindo formas.
abrindo caminhos.
sim, vamos na frente.
abre ala.
abrindo para fechar.
construímos nossos remendos na pele.
mas, mais do que na pele, somos uma grande costura.
esse conhecimento e visão é muito antiga.
costuradas por dentro, na história, nessa rede que quebra o tempo e espaço. e viaja neles.
aprendemos a tocar tambor e chocalhos, a cantar e a dançar para relembrar, fortalecer, festejar, curar.
resistir aos que nos queriam separados.
nos abraçamos para nos reconhecer, para agradecer as nossas existências, para nos sentir.
vamos seguindo, às vezes gritando, às vezes em silêncio.
mas vemos tudo. muites de nós sentimos muito.
muites de nós conversamos muito.
vemos o invisível.
vemos os jogos. e aceitamos.
mas é porque já estamos em outro caminho.
o que nos interessa são nossas ancestralidades cruzadas.
nos amamos. e tb deixamos nosses continuar suas trajetórias. 
sentimos falta. não pertencemos. 
passamos por vários portões. atravessamos muitas encruzilhadas.
nos encontramos. e cada ume nos atravessa.
nunca estivemos em momento de trégua.
mas temos a experiência da sagacidade.
aprendemos. 

segunda-feira, 31 de julho de 2017

o silêncio

o medo se instaurou em meu corpo. ele é bem antigo.

com uma outra forma de entender o mundo, perdi as referências, vivi as ansiedades do risco de morte, a tristeza das mortes, e a violência ao cruzar as binaridades de gênero. nada disso tinha esses nomes, mas tinha esses impactos. nada disso tinha essas compreensões. que eu saiba, e eu me lembre, isso foi dos 7 meses na barriga de mami ao 2 anos de idade. tudo que eu faço, vem de mim e de minhas lutas. o que eu não faço, vem da ansiedade. vendo, agora, de outra forma. após relaxar, ela se mostrou. mas agora é algo maduro, ao olhar. o que não significa que ela mudou, mas que ela pôde confiar em mim. a sensibilidade, o confiar no invisível, entender e passear por mundos outros… é onde me realizei por muito tempo. foi por onde andei. a violência material foi demasiada pra sensibilidade tão aflorada. fechei os olhos, os ouvidos. lá, não me tocavam. os choros não expurgavam, os gritos não expurgavam. não havia carinho, não havia proteção. havia a sobrevivência. que tb não tinha esse nome e essa compreensão. a família era aquela que cuidava de mim no silêncio, no invisível.