segunda-feira, 31 de julho de 2017

o silêncio

o medo se instaurou em meu corpo. ele é bem antigo.

com uma outra forma de entender o mundo, perdi as referências, vivi as ansiedades do risco de morte, a tristeza das mortes, e a violência ao cruzar as binaridades de gênero. nada disso tinha esses nomes, mas tinha esses impactos. nada disso tinha essas compreensões. que eu saiba, e eu me lembre, isso foi dos 7 meses na barriga de mami ao 2 anos de idade. tudo que eu faço, vem de mim e de minhas lutas. o que eu não faço, vem da ansiedade. vendo, agora, de outra forma. após relaxar, ela se mostrou. mas agora é algo maduro, ao olhar. o que não significa que ela mudou, mas que ela pôde confiar em mim. a sensibilidade, o confiar no invisível, entender e passear por mundos outros… é onde me realizei por muito tempo. foi por onde andei. a violência material foi demasiada pra sensibilidade tão aflorada. fechei os olhos, os ouvidos. lá, não me tocavam. os choros não expurgavam, os gritos não expurgavam. não havia carinho, não havia proteção. havia a sobrevivência. que tb não tinha esse nome e essa compreensão. a família era aquela que cuidava de mim no silêncio, no invisível.