sábado, 5 de janeiro de 2008

um morcego voa dentro de mim

Um morcego voa dentro de mim...

Deixo-o livre. Ele não esbarra nas paredes.

Ele canta: um som fino, agudo.

Um morcego canta dentro de mim.

Ele sabe como entoar.

Ele voa e sabe onde ir.

Um morcego dança dentro de mim.

Ele dança com véus que flutuam em lagos.

Um morcego pede dentro: sono, repouso de mim.

Um morcego pede: outros rumos, outros rumores.

Um morcego canta dentro de mim.

E seu canto, ouço-o suave, mas é estridente e agudo.

Ele pede repouso.

Um morcego fala dentro mim.

E o que fala não posso falar.

Ouço-o.

Um morcego fala muito dentro de mim.

Ele diz muitas coisas.

Não rio com suas coisas: ouço-o.

Um morcego não ri dentro de mim: ele sabe das paredes e arestas.

Um morcego suave bate asas mãos dentro de mim.

Há um morcego dentro de mim.

Um morcego dança e sua dança cansa.

Um morcego dança e sua dança não cansa.

Um morcego dança dentro mim, e ele é único.

Um morcego canta dentro de mim, e ele é único.

Um morcego voa dentro de mim, e ele é o mesmo.

Ouço as paredes de um morcego que voa dentro de mim e não as bate.

Vejo um morcego que age dentro de mim e não maltrata.

Sei de um morcego que voa dentro de mim e quer voar fora de mim.

Desse morcego sei mais do que os outros, que são os mesmos, e únicos.

Morcego.

Um morcego, o mesmo, canta dentro de mim.

Esse canto, um morcego único, o mesmo, canta dentro de mim.

Não pensar. Não mudar.

Um morcego único dança dentro de mim.

Há morcego dentro de mim.

Desse amorcego dentro de mim sei mais do que os outros.

Amorcego voa dentro de mim e ele é único, o mesmo.

O mesmo amorcego antigo: não mudar.

Amorcego dança dentro de mim, um único.

Essa dança é a mesma, a única.

Amorcego voa dentro de mim.

O mesmo vôo.

Cansado.

Amorcego em mim.

Amorcego dentro de mim, um mesmo, o único.

Amorcego voa dentro de mim, e não fora.

Esse único conheço mais do que os outros que não conheço.

Humorcego há dentro de mim.

Humorcego tem outros nomes dentro de mim.

Humorcego tem mais nomes fora de mim do que dentro.

Tem muitos nomes.

Tem um morcego dentro de mim, e ele voa.

Ele não esbarra.

Um morcego voa dentro de mim e conhece bem a caverna e o lago.

Há um morcego dentro de mim, e ele é único, provável.

Um morcego dentro de mim canta.

Um morcego dentro de mim está cansado.

Ele voa para fora de mim.

E encontra uma caverna cansada que o abrigue.

Esse morcego encontrou.

Houve um morcego dentro de mim, mas ele voou embora.

E o único lugar dele em mim jaz nessas palavras...

...

concluo: meia noite, entre o quarto e o quinto primevo dia do ano dois mil e oito.

Um comentário:

Luiz Felipe Botelho disse...

Dizem que morcegos não enxergam, mas acho que, se parecem cegos, é porque enxergam mais do que é possível controlar. Belo fluxo/cachoeira/rio/palavras/emoção.